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Dos dias que passam longe da prátria amada, quando já se é quase mais de cá do que de lá. "I'm a legal alien".
Esta semana despedi-me do meu irmão mais novo, que foi estudar para Londres. Há dois anos e meio, foi a despedida do nosso irmão mais velho, que decidiu ir para lá trabalhar. Entretanto, em junho, completaram-se três anos desde que os meus pais voltaram para o Brasil.
Porque é que não vais com eles? Sei lá. E porque não ficar?
Criei raízes. Não sei se será mais pelo amor, pelos amigos ou pelo trabalho, mas são fortes e difíceis de arrancar. Sinto quase a dor do puxão quando envio alguma candidatura para fora daqui, e não esquecer que a dor é o alerta do corpo de que algo está mal. E realmente, mesmo que signifique continuar longe da família, algo parece estar mal quando penso numa vida fora daqui.
Quando me for – se um dia decidir, de facto, ir – não vai haver contagem dos anos que aqui vivi, porque não há números que traduzam “desde que me dou por gente”. Apesar de me sentir 100% brasileira, sou também 100% do Porto (no coração as leis da matemática são outras). Não é apenas a cidade ou o país onde construí a minha vida. Apesar das minhas mil queixas sobre o jeitinho tuga de ser, o facto é que tudo em mim, desde os palavrões com sotaque ou simplesmente ao pensar com uma mão no coração, não me deixa mentir: já sou demasiado portuguesa, sou mesmo daqui.
Perguntam-me novamente se tenho a certeza de que quero ficar. Caramba, quem tem certeza de tudo nesta vida?
>> Da minha coluna "Ligeiramente Alienígena", no blog da associação Código Simbólico.
No dia 5 de outubro, vou votar pela primeira vez em eleições brasileiras. Não vou dizer em que sentido vai o meu voto – que já decidi -, mas permitam-me partilhar o processo de decisão de uma neurótica que, do outro lado do oceano, nunca viveu plenamente o ambiente social e político do Brasil.
O sistema partidário brasileiro é caótico para quem só espreita de fora. Apesar da sua dimensão ser relativamente proporcional em relação ao português, as mudanças de filiações e alianças e criação de novos partidos – que facilmente conseguem uma representação expressiva -, somadas às informações que parecem surreais sobre a impunidade da corrupção (quantos políticos não sobem ainda mais alto depois dos escândalos e até de cassações?), fazem com que tenha que fazer um esforço muito grande para conseguir acompanhar quem-é-quem e quem-fez-o-quê e quem-é-corrupto-mas-ainda-ainda-à-solta. Há cerca de um ano, quando fui contratada por um site de notícias do Brasil, imprimi este mapa da “Guerra dos Tronos” da política brasileira, que já está um pouco desatualizado mas vale a pena conferir.
Também vou acompanhando o que se diz no Twitter, berço de todos os memes e das melhores piadas. Mas, porque o assunto é sério, crieiesta lista para uma cobertura cabal. Como é impossível acompanhar todas as notícias dos 11 candidatos, aproveito ainda a filtragem dos blogs brasileiros, à esquerda e à direita, tentando fintar os viés de cada um.
Por fim, é preciso conferir o que se diz. O blog Preto no Branco, do jornal Globo, e a série Truco!, da Agência Pública, fazem um trabalho porreiro: pescam afirmações dos candidatos e verificam. A Pública também faz uma análise dos programas eleitorais, além de um apanhado das promessas eleitorais que vale mesmo a pena seguir.
Se com tudo isto eu tenho a certeza que tomei a decisão certa? Claro que não. Mas vou tentando. Quem quiser tentar comigo, pode acompanhar o meu percurso até o dia 5 de outubro em campanhaeleitoral.tumblr.com e dar o seu feedback.
>> Da minha coluna "Ligeiramente Alienígena", no blog da associação Código Simbólico.
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