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Raízes.

por Aline, em 02.10.14

Esta semana despedi-me do meu irmão mais novo, que foi estudar para Londres. Há dois anos e meio, foi a despedida do nosso irmão mais velho, que decidiu ir para lá trabalhar. Entretanto, em junho, completaram-se três anos desde que os meus pais voltaram para o Brasil.

 

Porque é que não vais com eles? Sei lá. E porque não ficar?

 

Criei raízes. Não sei se será mais pelo amor, pelos amigos ou pelo trabalho, mas são fortes e difíceis de arrancar. Sinto quase a dor do puxão quando envio alguma candidatura para fora daqui, e não esquecer que a dor é o alerta do corpo de que algo está mal. E realmente, mesmo que signifique continuar longe da família, algo parece estar mal quando penso numa vida fora daqui.

 

Quando me for – se um dia decidir, de facto, ir – não vai haver contagem dos anos que aqui vivi, porque não há números que traduzam “desde que me dou por gente”. Apesar de me sentir 100% brasileira, sou também 100% do Porto (no coração as leis da matemática são outras). Não é apenas a cidade ou o país onde construí a minha vida. Apesar das minhas mil queixas sobre o jeitinho tuga de ser, o facto é que tudo em mim, desde os palavrões com sotaque ou simplesmente ao pensar com uma mão no coração, não me deixa mentir: já sou demasiado portuguesa, sou mesmo daqui.

 

Perguntam-me novamente se tenho a certeza de que quero ficar. Caramba, quem tem certeza de tudo nesta vida?

 

>> Da minha coluna "Ligeiramente Alienígena", no blog da associação Código Simbólico.

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publicado às 23:39

Da questão da identidade.

por Aline, em 13.09.13

Ainda me lembro do ano em que fiz 14 anos. Comecei a verificar todos os dias de férias que tínhamos passado no Brasil, todas as viagens que pudéssemos ter feito para outros países que descontassem um pouco a contagem. Dentro de poucas semanas, eu teria estado mais tempo em Portugal do que no país em que nasci. 

 

Já lá vão quase dez anos desde esses 14, e a contagem vai-se tornando cada vez mais dolorosa. Torna-se ainda pior porque, no meio dos mil e um problemas da adolescência, juventude e início da vida adulta, não há muito espaço para continuar a acompanhar tudo o que se passa lá e cá. É preciso escolher. E começar a perder o contacto com as raízes. 

 

Estava no secundário quando, pela primeira vez, fiz a associação entre o conceito de "imigrante" e a minha situação. Ainda bem que foi tão tarde. Ser imigrante é ser forasteira. Já imaginaram ser o elemento de fora quando o que se quer é ser aceite? Foi aí que começou a esquizofrenia. Na escola (e mais tarde na faculdade), toda a gente que ia conhecendo desde cedo sabia que era brasilera. No íntimo, pelo contrário, cada vez mais me afastava dessa identidade, escapulia às chamadas com os avós, não me interessava quando a televisão estava ligada no GNT, distanciando-me daquilo com que não podia ter contacto direto, de verdade. 

 

Hoje poderia dizer que está resolvido, que encontrei o equilíbrio entre os meus dois lares. Mas a que custo? Os meus pais regressaram ao Brasil, é preciso saber sempre o que se passa com eles. Temos ido todos os anos visitá-los (em vez dos antigos espaçamentos de três ou quatro anos), o contacto com os primos já volta a ser mais próximo. Paira sempre a hipótese de voltar para trabalhar lá, e assim entra o stress de me pôr a par de tudo o que, durante anos, evitei ouvir falar. 

 

Desde os meus 14 anos penso seriamente se serei já mais portuguesa do que brasileira. Por alguns anos, pensei ter encontrado uma resposta. E agora, José?

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publicado às 14:52


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