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Calor que vem de dentro.

por Aline, em 12.10.13

Em dezasseis anos, só um dos nossos primos nos tinha vindo visitar, acompanhando a minha avó. Mas isso foi há muito, muito tempo, quando ainda não podíamos ir longe e o frio do Inverno nos mantinha demasiado tempo dentro de casa. 

 

Desta vez foi diferente. Dezasseis anos depois, elas vieram e chegaram no esplendor do verão. Andando em matilha por aqui e acolá (está no sangue), passeamos e perambulamos e aproveitamos tudo o que havia para viver, pé na estrada, câmara na mão, telefone sempre a postos porque o contacto com a mamãe não é para se perder. Mostramo-lhes um pouco de cá como bons portugueses que já somos, mas sentindo-nos em essência um pouco mais perto do nosso Rio - entre rimas, risos e rios de cumplicidade.

 

E foi isto que tornou o meu verão quentinho - de dentro para fora.

 

 

 

   

 

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publicado às 00:39

Desde que os meus pais voltaram para o Brasil, toda a gente me pergunta o que é que ainda estou a fazer em Portugal. Não é de um dia para o outro que se faz uma mudança destas - até porque não estaria propriamente a ir para o desconhecido, não há a aventura nem o friozinho na barriga de deixar a vida me levar.

Posto isto, fica aqui uma lista de pequenos privilégios que fazem da vida em Portugal menos dolorosa do que no Brasil.

1. Atravessar calmamente nas passadeiras.
Não sei até que ponto os portugueses têm noção do privilégio que é poder atravessar uma rua sem esperas nem correrias. No Rio, o risco de morte é igual quer atravesses dentro ou fora de uma passadeira, e o mesmo se passa com o tempo de espera para atravessar as ruas mega movimentadas. Isto quando há passadeiras. O que salva é que no Centro há mais semáforos.

2. 4M.
E tudo o que envolve as linhas da madrugada da STCP. Primeiro, por existirem. Segundo, por terem horários certos. Terceiro, por ser possível - leia-se seguro - apanhar um autocarro à noite sem temer pela vida. Quarto, por ser possível chegar a casa com o MP3 ligado e não ter que olhar à volta paranoicamente antes de tirar a chave da carteira e pô-la na fechadura. Ponto extra: tudo isto com um passe.

3. Saldos.
Não que não os haja no Brasil, mas o facto é que a roupa lá é cara com ou sem descontos. Não há H&M, Stradivarius nem Pull & Bear. Nem saldos como os da Zara e da Mango. Nem preciso citar as lojas da Baixa com roupa em segunda mão a 3 euros...

4. Concertos.
Os festivais de Verão em Portugal são bons, bonitos e baratos. O clima é ameno, o cartaz é porreiro e a maioria das pessoas à tua volta também é pobre como tu. Pode-se dizer o mesmo dos concertos em geral, que por cá são acessíveis a qualquer alma que deixe de comprar Cheetos/chiclas durante um mês. Do outro lado do oceano é tudo caro. Além de que nunca ouvi falar de festivais de Verão no Brasil além do de Salvador (que é carnavalesco, e portanto não conta).

5. Low cost. 
Isto parece snob, mas a verdade é que não se vai do Rio para Madrid por 30 euros. Nem do Rio para Paris por 60 euros. Nem do Rio para Londres por 85 euros. Nem do Rio para Berlim por 100 euros. Simplesmente não se vai.

Podia continuar a lista com mais meia dúzia de coisas (gin a 3 euros, bacalhau com natas, comunicações baratas, centros de saúde com médicos competentes, etc), mas acho que mesmo com exemplos supérfluos já dá para perceber que ficar por cá não é assim tão mau. É claro que nada disto me impede realmente de ir para o Rio (apesar de fazer a minha vida um pouco mais miserável do que a que tenho no Porto).
 

 

 

 

 


O que me prende são as raízes.

 

5 coisas que não tenho no Brasil (+ o que realmente me prende a Portugal). Uma Beca de Rebeca, 21 de agosto de 2013.

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publicado às 18:39

Bom demais.

 

Deliciem-se, viciem e convençam-no a voltar a Portugal, por favor.

 

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publicado às 22:51

Sensualizando.

por Aline, em 03.10.13

sen·su·a·li·zar 

verbo transitivo

1. Excitar aos prazeres dos sentidos.

2. Dar caráter sensual a.


in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.

 

 

Não sei se haverá muitos verbos tão brasileiros como este. Nem que apareçam tantas vezes em títulos de sites de famosos.

 

 

Em tempo: Sensualizando! Confira o novo clipe de Rihanna, “Pour It Up”

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publicado às 11:56

Da questão da identidade.

por Aline, em 13.09.13

Ainda me lembro do ano em que fiz 14 anos. Comecei a verificar todos os dias de férias que tínhamos passado no Brasil, todas as viagens que pudéssemos ter feito para outros países que descontassem um pouco a contagem. Dentro de poucas semanas, eu teria estado mais tempo em Portugal do que no país em que nasci. 

 

Já lá vão quase dez anos desde esses 14, e a contagem vai-se tornando cada vez mais dolorosa. Torna-se ainda pior porque, no meio dos mil e um problemas da adolescência, juventude e início da vida adulta, não há muito espaço para continuar a acompanhar tudo o que se passa lá e cá. É preciso escolher. E começar a perder o contacto com as raízes. 

 

Estava no secundário quando, pela primeira vez, fiz a associação entre o conceito de "imigrante" e a minha situação. Ainda bem que foi tão tarde. Ser imigrante é ser forasteira. Já imaginaram ser o elemento de fora quando o que se quer é ser aceite? Foi aí que começou a esquizofrenia. Na escola (e mais tarde na faculdade), toda a gente que ia conhecendo desde cedo sabia que era brasilera. No íntimo, pelo contrário, cada vez mais me afastava dessa identidade, escapulia às chamadas com os avós, não me interessava quando a televisão estava ligada no GNT, distanciando-me daquilo com que não podia ter contacto direto, de verdade. 

 

Hoje poderia dizer que está resolvido, que encontrei o equilíbrio entre os meus dois lares. Mas a que custo? Os meus pais regressaram ao Brasil, é preciso saber sempre o que se passa com eles. Temos ido todos os anos visitá-los (em vez dos antigos espaçamentos de três ou quatro anos), o contacto com os primos já volta a ser mais próximo. Paira sempre a hipótese de voltar para trabalhar lá, e assim entra o stress de me pôr a par de tudo o que, durante anos, evitei ouvir falar. 

 

Desde os meus 14 anos penso seriamente se serei já mais portuguesa do que brasileira. Por alguns anos, pensei ter encontrado uma resposta. E agora, José?

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publicado às 14:52


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