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Dos dias que passam longe da prátria amada, quando já se é quase mais de cá do que de lá. "I'm a legal alien".
"Conheci" o Cícero por causa do Bruninho, que tocava acordeão com t-shirts coloridas neste videoclip, e até o dia 5 de abril foi sempre "a banda do Bruninho".
Mas, caraças, Cícero passa a ser "a banda do Cícero Lins, Bruno Schulz e Bruno Giorgi" no momento em que tocam os primeiros acordes, numa onda de paixão que extravasa qualquer álbum de estúdio ouvido no conforto do MP3.
Cícero é mágico, todo ele uma delícia de ouvir e sentir. O Bruninho continua a dominar teclados e acordeão, e Giorgi com o seu gingado nos contagia na batida marcada pelo baixo.
De toda a nova (boa) música brasileira - que já vai tendo uma lista bastante extensa de nomes a ter debaixo de olho - Cícero está entre o mais visceral, apaixonante, delicado e intimista, tudo ao mesmo tempo e com o toque de simpatia com que nos agradece do fundo do coração a ovação merecida.
Para sacar os discos no site - de graça, em estado de graça.
Já estamos quase no fim da segunda jornada da fase de grupos e esta tem sido, conforme prometido, a Copa das Copas.
Este tem sido o Mundial das mil e uma surpresas, desde a desgraça das campeãs Espanha e Inglaterra aos delírios da Costa Rica e da Colômbia, passando pelos jogos de mesmice do Irão e da Grécia (que, vá lá, não é propriamente surpresa), pela infelicidade que é ver o Brasil jogar como se comprar árbitros fosse o suficiente para ganhar jogos, e pela tragédia refletida na cara de todos na esplanada quando Portugal levou quatro golos contra a Alemanha.
Para mim, esta Copa trouxe algo novo: uma vontade verdadeira de apoiar a seleção portuguesa. Nunca foi mistério para ninguém que a minha preferência no futebol vai para o Brasil, porque lá o futebol é um jeito de viver e também, de certa forma, porque os portugueses têm mau ganhar e mau perder. Mas, quem diria, o CR7 com quem tanto embirrei durante todos estes anos convenceu-me que, desta vez, Portugal iria saber vencer. Vamos, Portugal!
Não, não estou no Brasil. Mas, para quem - como eu - quer acompanhar a Copa do jeitinho brasileiro, aqui vão os melhores canais para seguir o Mundial: Desimpedidos e Impedimento.
#nãovaitercopa vs #vaitercopasim
Os protestos também prosseguem e os dias de grandes jogos são dias de manifestações nas cidades-sede. Já foram feitas dezenas de detenções por várias cidades mas o furor dos manifestantes tem sido controlado o suficiente para não agourar nem a festa, nem a validade das suas reivindicações.
O Brasil continua sem bons hospitais, sem educação de qualidade, só temos polícia a trabalhar dignamente quando há estrangeiros na parada e os políticos continuam a esfregar as mãos enquanto o dinheiro do investimento nos mega-eventos vai para os seus bolsos. E, no entanto, continuamos a amar o nosso país e a apoiar este grande evento que, a bem ou a mal, mostra ao mundo que estamos aí para ficar.
Para terminar, uma pequena nota sobre o orgulho de ser brasileiro - de um texto do qual discordo nalgumas coisas, mas que pode explicar muito.
"Uma pequena digressão, caro manifestante: recentemente entrevistei o antropólogo Roberto DaMatta, um pensador de 74 anos que tem como missão de vida entender a nós, brasileiros. Ao conversar sobre a Copa do Mundo, eu disse ao professor DaMatta que, desde criança, sinto uma emoção profunda cada vez que vejo os jogadores da seleção brasileira cantando o hino nacional. Me esforcei para confessar para o intelectual que muitas vezes essa emoção inexplicável e piegas – que vem do meu mais profundo âmago – me faz chorar.
O sábio professor olhou para mim com doçura e disse que eu não precisava me envergonhar, pois ele também sentia essa mesma comoção. “Nos emocionamos porque achamos que, como povo e país, não valemos nada”, ele disse. E continuou: “No fundo, nos vemos como um país atrasado e insignificante. Nossa autoestima é muito baixa. Não gostamos de nós mesmos. Mas eis que, no futebol, encontramos uma possibilidade única de redenção. Nesse quesito, nossa grandeza é reconhecida. O mundo se ajoelha diante de nós. Não somos uma escória e, redimidos, choramos”."
in Revista Trip
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